5.3. Relatório PMAD: Fase de Conceptualização

 

Relatório PMAD: Fase de Conceptualização

Introdução

Este projeto emerge da metodologia a/r/cográfica de Veiga (2020), adotando uma abordagem interativa que reflete e avança etapa a etapa, tal como é passível acompanhar em Diário de Bordo (Gouveia, 2022). A proposta centra-se na exploração das narrativas transmédia e da realidade aumentada como meios para ampliar a compreensão das conexões humanas e a promoção da empatia relativamente a locais geograficamente delimitados. Deste modo, a seleção de um caso de estudo, ou melhor, um local de estudo, a vila da Golegã (entrada 4.2. Intenção), terá a relevância necessária para o avançar da investigação. A inspiração projetual iniciou-se na necessidade-gatilho de transcender a experiência acumulada no meu projeto de mestrado ANAMNESE (entrada 3. Gatilho), combinado o conceito teórico dos Seis Graus de Conexão (entrada 3.1. Gatilho), para a exploração de um novo território criativo e investigativo. 

 

Desenvolvimento

O fascínio pela História, Cultura, empatia e estórias serviu como principal motivação para o desenvolvimento do projeto (entrada 4. Intenção) – elemento que advém do projeto gatilho ANAMNESE -, refletindo-se numa profunda apreciação pela herança cultural e pelas estórias pessoais contidas em locais geográficos, quer pelos seus habitantes, quer pelos seus afiliados, quer pelos seus elementos icónicos. Este retorno à missão tomada em projeto de mestrado - trabalhar sobre a problemática fraturante da Crise de Desconexão (Way et al., 2018) utilizando as estórias como suporte para uma potencial promoção empática -, alia-se às possibilidades que a Média-arte digital, especificamente as narrativas transmédia, e as tecnologias, especificamente a realidade aumentada, oferecem na motivação de tentar conectar pessoas. O desejo de reforçar a empatia e a compreensão mútua inter e intra comunidades, a par de a(s) caracterizar, demonstra-se como um poderoso gatilho para a investigação.

Deste modo, o projeto aspira ao desenho e desenvolvimento de uma instalação interativa que utilize a realidade aumentada para trazer à vida as estórias significativas de um local de estudo (a vila da Golegã). Ao evocar o envolvimento dos participantes numa jornada narrativa imersiva, o objetivo é estimular a reflexão sobre a interligação das nossas vidas com os espaços que habitamos, utilizando a teoria dos seis graus de conexão humana como fio condutor. 


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Fig.1. Gráficos sobre a versão simplificada do artefato e da interação com o próprio. 

A partir da colaboração com as autarquias locais, o projeto pretende identificar sublocais icónicos de locais em estudo - neste caso espaços da vila da Golegã – que serão triggers de sequências 8 entrevistas com habitantes e afiliados dos sublocais a selecionar.

 

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Fig.2. Infográfico sobre a sequência de ligações espaço-pessoas.

 

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Fig.3. Infográfico sobre interconexão e resultados potenciais do projeto-artefacto.

 

 

A captação audiovisual de memórias e experiências em formato de estórias orais (entrevistas) permitirá integrar a participação ativa do público na construção e evolução da narrativa geral da exposição. Com base na sequência pessoa-pessoa, incentiva-se a formação de uma rede empática e compreensiva entre os participantes e o espaço. Esta correlação direta (sujeito A indica sujeito B) transcenderá a sua simplicidade ao notar-se uma correlação reflexiva e emocional mais complexa, a dos sujeitos de diferentes sublocais (o sujeito A da sequêcia 1 fala sobre o mesmo espaço que o sujeito B da sequência 2, deste modo tem um ponto relacional comum, algo que os aproxima) mas, também, a dos sujeitos ao grande local de estudo, a vila da Golegã.

Assim sendo, o projeto pretende enveredar uma jornada artística e tecnológica, alimentada por uma diversidade de influências que se estendem a diferentes fronteiras de expressão humana, tecnologia e património cultural. Através da realidade aumentada e da abordagem artística do conceito de “Portal painting” (entrada 2.10 Inspirações), o projeto manifesta a tentativa de oferecer uma experiência imersiva que desafia a perceção espacial e convida os visitantes a explorar outras realidades e conexões humanas. Inspirado tanto por instalações imersivas como o caso do Story of the Forest de teamLab (entrada 2.2. Inspirações), quanto pelo impacto emocional de inspirações como o documentário Humande Yann Arthus-Bertrand (entrada 2.3. Inspirações), este empreendimento visa transcender a apresentação tradicional de informações, aspirando à tentativa de uma experiência emocional com potencial educativo. 

A abordagem inovadora do projeto Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (entrada 2.8 Inspirações) ecoa a mesma missão do projeto em preservar as tradições orais e memórias coletivas, enquanto a investigação sobre “Redes Sociais” em Média-Arte locativa pela investigadora Isabel Carvalho (entrada 2.9 Inspirações) auxília o caminho para a exploração de narrativas urbanas interconectadas. A incorporação de tecnologias imersivas, especialmente a realidade aumentada através da aplicação Artivive (entrada 2.10 Inspirações), permite a fusão do tangível com o virtual, desvendando estórias ocultas e promovendo interações narrativas dinâmicas.

Descrição Detalhada

 

A)   Aspetos Estéticos

a.    O artefacto será caracterizado por uma experiência estética, cognitiva e sensorial rica, envolvendo imagens, vídeos e interações táteis concebidas para imergir os participantes nas estórias da Golegã;

 

B)   Aspetos Narrativos

a.    O artefato desenvolverá uma estória evolutiva através da realidade aumentada, permitindo múltiplas interpretações e descobertas baseadas nas interações dos participantes. Cada ponto de interessa na Vila da Golegã servirá como um capítulo de uma narrativa maior, onde emergem as experiências pessoais dos participantes. Ao explorar estes “portais narrativos”, os visitantes podem desbloquear estórias ocultas, mergulhando em cada jornada que é tanto pessoal como coleta na tapeçaria de vidas e eventos que moldam a vila;

C)   Aspetos Técnicos

a.    O projeto emprega a tecnologia de realidade aumentada para sobrepor elementos digitais à representação da imagem física de sublocais icónicos da vila da Golegã. Através de uma aplicação móvel (app Artivive), os visitantes terão acesso a conteúdos interativos que complementam e expandem a experiência física/concreta/real. Esta abordagem não só enriquece a visita com informações e narrativas adicionais mas, também, permite uma forma de interação estimulante, onde o tangível e o intangível são cruzados multidimensionalmente. Relativamente ás tecnologias utilizadas para desenvolvimento da porção tangível do artefacto, estas são: 1 ou mais semiesferas acrílicas, fotografias e/ou materiais de desenho para elaboração das representações dos subespaços e materiais para suspensão ou fixação das semiesferas. Todos os materiais para a totalidade do projeto serão providenciados pela artista contando a promoção de fácil transporte e montagem. É de notar que a disponibilização de objetos tecnológicos para contato com a realidade aumentada também serão providenciados;

 

D)  Aspetos Relacionais

a.    O projeto pretende incentivar uma interação intuitiva e participativa. Desta forma, o acesso a uma interface simples contribuirá para a descoberta do artefacto e, também, das estórias, enriquecendo a narrativa coletiva. Esta abordagem democratizada poderá requerer uma atenção especial segundo duas formas: a) preparação de instruções simples, como a fixação de um painel de indicações diretas para navegação da experiência, a par do acesso à aplicação; b) disponibilização de objetos tecnológicos para usufruto do artefato-projeto, entendendo que nem sempre o visitante poderá ter acesso à tecnologia necessária. Estes pontos especiais serão objeto de investigação aprofundada nos próximos passos da investigação. 

 

E)   Aspetos Expositivos

a.    A instalação requer uma porção de um espaço livre e potencialmente adaptável para que permitir a livre movimentação e exploração dos visitantes. Idealmente a instalação exporia uma grande quantidade de sublocais icónicos da vila da Golegã, aproveitando a conceptualização de um espaço amplo como o que fora projetado no projeto ANAMNESE (desenvolvido em mestrado), contudo e, por forma a facilitar a jornada e aplicação do artefato, restringir-se-á o projeto a no mínimo dois “portais” narrativos, cada um cuidadosamente integrado para proporcionar uma experiência imersiva que deixa “água na boca” para conhecer mais. Quanto à tipologia de fixação do projeto, idealmente seria realizada pela suspensão dos portais em alturas de confortável e diversificável observação (princípio de design inclusivo a diferentes estaturas, idades, entre outros fatores; assim como princípios de design espacial para a estimulação memorável de níveis estético-conceptuais). Porém, o artefato poderá ser instalado numa parede ou, se for necessário, expor-se com o auxílio da cavaletes adaptados.

 

 

Conclusão

O Projeto (ainda sem denominação definida) emerge como uma tentativa inovadora de explorar as intersecções entre narrativa, tecnologia e espaço, visando transcender as fronteiras tradicionais da arte e da comunicação. Ao integrar a realidade aumentada com estórias e riqueza cultural, procura não só preservar e celebrar o património imaterial da Golegã mas, também, promover uma compreensão mais profunda e potencialmente empática das conexões humanas que moldam a nossa experiência coletiva. 

Este documento de conceptualização delineou as fundações teóricas, as inspirações criativas e as estratégias técnicas que guiarão a realização do projeto, refletindo um compromisso com a inovação e a relevância social. Ao desdobrar-se através de múltiplas plataformas e meios, intende ser um catalisador para diálogos e reflexões, incentivando os participantes a reconhecer e valorizar as estórias entrelaçadas que compartilham. 

À medida que o projeto avançar para as fases seguintes de desenvolvimento e implementação, o projeto manter-se-á aberto à evolução e ao diálogo com a comunidade, tal como novos brainstormings, inspirações, ou outros potenciais “retrocessos” metodológicos, tentando impactar os visitantes com uma experiência estética e sensorial ativada pela co-criação de um mosaico narrativo de diversidade e interconexão. 
 

 

Referências

 

Gouveia, A. (2022). Mad Project 1-0-1. Diário de Bordo. https://madproject101.blogspot.com

Way, N., Ali, A., Gilligan, C., & Noguera, P. (2018). The Crisis of Connection. NYU Press.

 

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